A Ópera
O quarto estava escuro e em completo silêncio. A
única coisa que podia ser notada era a ponta de um cigarro aceso, que aparecia
no canto do quarto. O silêncio era perturbador. De repente, a ponta do cigarro
se mexe. Sinal de que ele levaria aos lábios o maldito entorpecente.
Ele traga uma, duas, três vezes, e logo depois, joga
dentro do cinzeiro. Levanta-se no meio da escuridão. Acende a luz e pisca
várias vezes, até acostumar-se com a claridade. O quarto ao seu redor era
pequeno. A pintura das paredes já estava a descascar. Os únicos móveis eram uma
cama, uma poltrona onde ele, a pouco, estava sentado, do lado tem uma mesinha
com um abajur. No outro canto, tem uma mesa e uma cadeira, uma pequena cômoda,
que continha uma antiga vitrola e uma estante velha com alguns livros e discos
de vinil. Por um tempo, ele examina tudo aquilo, como se estivesse ali pela
primeira vez. Depois, encaminha-se até a estante, escolhe um disco e coloca na
vitrola. Em questão de segundos, o ambiente é envolvido pelo som de Bethoven e
sua 5th Symphony. Ele fecha os olhos e se deixa envolver pela harmonia do som
dos violinos, violoncelos e seus outros instrumentos. Respira fundo e faz os
gestos do Maestro. Em seguida, vai até a mesa, onde está uma garrafa de Whisky,
um caderno e uma caneta. Senta-se por um momento. Rabisca algumas palavras,
toma um gole da bebida e acende um cigarro. Novamente, fecha os olhos. Imagens
do passado afloram em sua mente, enquanto traga seu veneno. Assim que termina
de fumar, retorna até a estante, pega algo entre os livros e apaga a luz
novamente. Quando Bethoven toca sua última nota, um tiro se ouve em meio à
escuridão.
No bilhete ele dizia:
“Cheguei numa fase da minha vida que vejo que a única
coisa que fiz até agora foi fugir, fugir de mim mesmo, do meu nada, e agora não
tenho mais para onde ir, nem sei o que vou fazer, fui péssimo em tudo. Por
isso, decidi morrer.”
P.s: a frase é de Bukowski, mas o final quem escreveu foi eu.
Lisa
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