domingo, 22 de maio de 2016

A Ópera

O quarto estava escuro e em completo silêncio. A única coisa que podia ser notada era a ponta de um cigarro aceso, que aparecia no canto do quarto. O silêncio era perturbador. De repente, a ponta do cigarro se mexe. Sinal de que ele levaria aos lábios o maldito entorpecente.
Ele traga uma, duas, três vezes, e logo depois, joga dentro do cinzeiro. Levanta-se no meio da escuridão. Acende a luz e pisca várias vezes, até acostumar-se com a claridade. O quarto ao seu redor era pequeno. A pintura das paredes já estava a descascar. Os únicos móveis eram uma cama, uma poltrona onde ele, a pouco, estava sentado, do lado tem uma mesinha com um abajur. No outro canto, tem uma mesa e uma cadeira, uma pequena cômoda, que continha uma antiga vitrola e uma estante velha com alguns livros e discos de vinil. Por um tempo, ele examina tudo aquilo, como se estivesse ali pela primeira vez. Depois, encaminha-se até a estante, escolhe um disco e coloca na vitrola. Em questão de segundos, o ambiente é envolvido pelo som de Bethoven e sua 5th Symphony. Ele fecha os olhos e se deixa envolver pela harmonia do som dos violinos, violoncelos e seus outros instrumentos. Respira fundo e faz os gestos do Maestro. Em seguida, vai até a mesa, onde está uma garrafa de Whisky, um caderno e uma caneta. Senta-se por um momento. Rabisca algumas palavras, toma um gole da bebida e acende um cigarro. Novamente, fecha os olhos. Imagens do passado afloram em sua mente, enquanto traga seu veneno. Assim que termina de fumar, retorna até a estante, pega algo entre os livros e apaga a luz novamente. Quando Bethoven toca sua última nota, um tiro se ouve em meio à escuridão.
No bilhete ele dizia:
Cheguei numa fase da minha vida que vejo que a única coisa que fiz até agora foi fugir, fugir de mim mesmo, do meu nada, e agora não tenho mais para onde ir, nem sei o que vou fazer, fui péssimo em tudo. Por isso, decidi morrer.”

P.s: a frase é de Bukowski, mas o final quem escreveu foi eu.


Lisa



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